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A varinha mágica

Tenho a impressão de que, nos últimos tempos, nosso país tornou-se um celeiro de magos e bruxos, todos portando uma varinha mágica. Magos e bruxos, na literatura de fantasia, são pessoas dotadas de grandes poderes e que, de posse de uma varinha mágica, são capazes de tudo, até mesmo transformar um sapo num ser humano, por exemplo. Para os que desejam aprofundar seus conhecimentos sobre magia e bruxaria, sugiro a festejada série Harry Potter, de autoria de Joanne Kathleen Rowling, conhecida pelo pseudônimo de J. K. Rowling, e que já vendeu mais de 500 milhões de exemplares. Harry Potter é um garoto de 11 anos com poderes sobrenaturais que vive no mundo normal, junto com aqueles desprovidos de qualquer poder, qualificados no romance como “trouxas”, embora seu verdadeiro mundo seja o da magia. Harry é um bruxo do bem, pautando suas condutas pela bondade e amizade, enquanto seu inimigo, Voldemort, é um bruxo do mal.

Diferentemente da fantasia — onde os bruxos e magos buscam de todas as formas o anonimato, fugindo da curiosidade dos “trouxas” — os nossos dotados de poderes sobrenaturais fazem questão de aparecer. É muito fácil reconhecer um mago ou um bruxo na terra de Santa Cruz. A varinha mágica que eles usam chama-se caneta. Assim como no romance Harry Potter, aqui também existem os “trouxas”, ou seja, os comuns. Uma das mágicas recorrentes dos nossos magos e bruxos é transformar criminosos em inocentes. Só eles, e apenas eles, possuem tais poderes. Para os “trouxas”, um sujeito que manda matar e esquartejar uma mulher deveria ser encarcerado por anos e anos. Porém os magos, com suas varinhas mágicas, invertem esta lógica, e num piscar de olhos tudo muda.

Um sujeito é pego pelo polícia com dezenas de caixas de munição, drogas e autuado em flagrante. Nada mais óbvio, pois afinal a lei proíbe tal conduta. E mais: as centenas de balas para fuzil destinam-se ao abastecimento de quadrilhas de traficantes, assaltantes. Serão utilizadas contra policiais, trabalhadores, para assaltar bancos, disparos a esmos em comemorações idiotas, e que vez por outra matam uma criança.

Um mago entra em cena e muda tudo. Usando sua varinha mágica (caneta), transforma o acusado em inocente, e mais: condena veementemente o que os “trouxas” consideram correto, ou seja, levar para a cadeia criminosos que abastecem outros criminosos, energizando a roda do crime. “Trouxas” são “trouxas”, e ponto final. Não possuem poderes sobrenaturais.

Constatamos recentemente o que a maioria dos “trouxas” desconfiava: a existência de magos e bruxos enlouquecidos por ouro. Usando superpoderes, roubaram o ouro dos “trouxas” e esconderam muito longe.

Às vezes, magos e bruxos do mal se reúnem para elaborarem receitas de magia que possam fazer sofrer e torturar as “trouxas”. Entre as mais recentes, encontramos a ordem para devolver um helicoptéro para uma empresa fantasma, que estaria servindo de fachada para lavagem de dinheiro para narcotraficantes.

O mundo deveria possuir um único universo, sem magos e bruxos.

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